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quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Rigor e Contenção



Hoje, fui jantar com o Jorge Lacão, ao "Cosa Nostra". Somos amigos há longos anos, e achámos que era altura de pôr a escrita em dia.

Obviamente falámos de Sócrates e da "Independente". Ao fim da primeira garrafa de um vinho fantástico da Tosacana -- nem me lembro do nome, dizem que é o melhor vinho do Mundo -- ele foi directo ao assunto. Pronto, como democrata, reconhecia o direito à intervenção pessoal na Blogosfera, mas achava que, ultimamente, estávamos a exagerar. Em suma, estávamos a pôr em causa um bom governo, um excelente primeiro-ministro, e um país que estava em vias de se tornar uma potência europeia de primeira linha.
Pontos nos "is", ele queria saber quanto custava... acolchoarmos o nosso tom.
Disse-lhe que, por mim, não custava nada, era só ele pedir, e ficava tudo entre amigos. Também podia mandar um email ao António, do
"Portugal Profundo", e a coisa morria já aqui.

Lacão sabe que, no fundo, eu tenho uma profunda estima por Sócrates, e ambos quiseram, já por várias vezes, levar-me a inscrever no Partido, embora as minhas condições nunca tenham sido cumpridas: queria um Programa de Governo que me garantisse a elegância da Suíça, o grau de liberdade de expressão da Holanda, uma tradição cultural como a Francesa, e uma opinião pública com a maturidade da Inglesa. Economicamente, para já, chegava-me que déssemos um salto à espanhola, embora sonhasse com as democracias avançadas nórdicas.


Continuamos à espera: eu, do Programa; ele, da minha ficha de inscrição no Partido.


A verdade é que ele me deu algumas contrapartidas para não voltar a escarafunchar, aqui, no assunto da "Independente", mas prometi não revelá-las.
Acontece que, como por acaso, estava a jantar, na mesa ao lado, o Luiz, aquele que tem o Mercedes Prateado, e é do tempo das licenciaturas compradas na Secretaria da Escola Secundária da Cidade Universitária, e costuma continuar a "atacar" nas ruínas da dita cuja.
Embora nos detestemos, lá nos cumprimentámos, ele, a estranhar o sinal da cara que o Lacão mandou tirar -- houve uma fase, a chamada Crise Pedroso, em que no P.S. houve uma certa necessidade de fazer desaparecer certos sinais característicos do corpo, mas, felizmente, já passou. Lacão ficava mais "sexy" com a manchinha negra na cara, como Pedroso com os sinais da coxa e da barriga, referidos no "Casa Pia".
Conversa, puxa conversa, perguntei-lhe se o "Manecas" ainda era vivo... É claro que, não o bichinho" já o tinha levado, e o irmão, no Brasil, para onde tinha fugido por causa das vendas das licenciaturas, também já não estava neste mundo...


É horrível a sensação de se ter fechado uma fase crucial da nossa História. Como iremos contar aos nosso vindouros que houve uma fase cronológica da Contemporaneidade Portuguesa onde era possível comprar diplomas, ao balcão de uma Escola Secundária, bem perto da Cidade Universitária?...
Dirão vocês que isso deu de comer a muita gente, e deu. Fernanda Câncio, mais avisada e cautelosa, com a autoridade que lhe dá o jornalismo isento, diria que todos nós precisávamos de vestir a bata branca, e voltar ao hospício, como, aliás, já disse.


O problema é que o hospício é Portugal, e há muita gente de bata branca, médicos, sobretudo, que ali compraram os cursos. Ali, e na célebre secretaria da Faculdade de Medicina do Campo de Santana, onde faziam bicha, pais e filhos, antes de aquilo abrir, para poderem aceder rapidamente ao forjamento das pautas, diplomas e livros de termos. Era uma espécie de Urgência de um Hospital de subúrbio, mas regida pela urgência de outras necessidades: ou se comprava o curso ali, ou podia ser que depois o negócio fechasse, como depois fechou. Pontos comprados nos ciganos, para fazer as cadeiras terminais do Curso de Medicina, isto para os pobres, e com alguma massa cinzenta; para os mais ricos, e burros, que não tinham tempo de preparar as respostas em casa, 20 contos, para lançamento de notas em pauta, livro de termos e diploma certificado.


Gostaria de ver o Vasco Pulido Valente pronunciar-se sobre este tema, que foi tema da sua contemporaneidade.


O Luiz só me dizia, aquilo foi terrível, o outro ia sendo preso, o irmão do "Manecas" teve de fugir, e até o nome do Ministro ficou em causa, mas graças a Deus que tudo ficou abafado, hoje, na Casa dos 50, 60, já são todos médicos, advogados, engenheiros, ingressaram na Política, dominaram as Câmaras e estão todas nas Administrações das empresas-chave. Graças a Deus, como na "Independente", tudo se vai resolver a bem: um desabafo do Bettencourt Resendes, um
desmentido dos Assessores de Imagem do Engenheiro Sócrates, e, de aqui a um mês, já ninguém se lembrará de nada...


Aqui, subitamente, apeteceu-me, passar da ficção para a realidade e vir lançar, neste espaço, um apelo: de todos os nossos leitores haverá quem se lembre, ou conheça quem se lembre, das minúcias desta história: a partir de hoje, todos os contributos, esquemas, percursos e nomes serão bem vindos às nossas caixas de comentários. Com os contributos, far-se-á um excelente "post", que talvez obrigue a rever a História Portuguesa dos últimos 30 Anos, e faça cair muito mais gente do que um ridículo e menos dotado Fantoche de Bilderberg.


Aqui ficamos à espera.


Muito obrigado.
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