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quarta-feira, 8 de agosto de 2007

O Problema de Bilderberg



"Na entrevista que deu à RTP, José Sócrates esgotou o seu tempo de antena para passar borras de carvão sobre a nódoa que manchava o seu passado académico. À época de Piero della Francesca, o stunt que Sócrates orquestrou (ou que alguém orquestrou por ele) era aquilo a que se chamava uma espécie de sfumatto, e que eu às vezes uso nos desenhos que faço a carvão: para causar um efeito "embelezador" num traço sem sentido, mal feito ou demasiado carregado, passa-se o dedo por cima, para borrar a pintura. O resultado é uma coisa bem mais homogénea, mais suave e que se parece com qualquer coisa intencional, mas que nem por isso é. Um traço que parece ganhar nitidez quando visto ao longe, mas que, analisado minuciosamente, revela ainda as marcas que a primeira passagem do lápis deixa no papel, denunciadora da sua má qualidade técnica.Prosseguindo a analogia, o governo de José Sócrates tem sido, como a entrevista que deu à RTP, um gigantesco sfumatto governamental: as coisas começam por parecer um mau traço, carregado e bem nítido, que depois se esbate, esfuma-se com a passagem de um ou dois (ou três) assessorais dedos por cima, transformando-se em algo belo e mais ou menos harmonioso, entre uma utopia e um suspiro de alívio, mas só e apenas para quem prefere olhar de longe - haja alguém que decida aproximar o olhar da pintura, facilmente nota a marca grosseira deixada no papel causada pelo tal primeiro traço, demasiado carregado, a mesma que às vezes vem em forma de indicativo 21, outras, em forma de retoma económica. É impossível disfarçar um mau artista com muito sfumatto. O resultado é um borrão, grotesco e inconcebível. Quando a pintura chega àquele ponto em que, depois de tanto esbater de contornos, fica irremediavelmente borrada, como parece ser o caso, restam apenas duas hipóteses: ou se tenta uma boa borracha, ou rasga-se tudo e começa-se a desenhar numa nova folha.Parecendo óbvio que, neste caso em concreto, a pintura borrou de mais, a crise parece não servir ninguém. A hipótese rasgar (o actual modelo de corrupção política) é extremamente inconveniente; seria preferível uma borracha eficiente - na forma de figura-hipótese-alternativa proveniente do partido rotativista - mas não houve ainda tempo, nem vontade - e não a haveria ainda, não fosse o imprevisto do ataque blogosférico - para uma tal figura se afirmar, o que de resto só viria a acontecer quando Sócrates perdesse o seu estatuto faraónico. Neste momento, a borracha que existe é uma solução de recurso que servia a sua função quando Sócrates borrava à vontade, mas que de momento simplesmente não serve: é de uma pequenez impraticável, a adicionar à sua extrema má-qualidade. É justamente este o problema de Bilderberg, única razão pela manutenção da cabeça de Sócrates sobre os seus ombros. Se deixarem cair o seu boneco agora, que outro pôr em seu lugar? Manter a situação tal como está torna-se, cada vez mais, num incómodo inaceitável, que aumenta a cada "remedianço" de "lapsos" e "incompetências" sucessivas. A ausência de figuras pré-carimbadas por Bilderberg cria um panorama que deixa as estruturas partidárias (diga-se que também por culpa própria) numa fragilidade terrível. Neste momento, Bilderberg lida com a surpresa, mas já deve estar a fazer preparativos para o sucessor. Pessoalmente, adorava incomodar ainda mais a agenda dos senhores, e ver surgir uma figura imprevista e não carimbada na política nacional. Existe por aí alguém com um canudo verdadeiro? Não seria preciso, mas já era um bom começo..."


By Zlipax
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