Fiquei a saber que, para Freud, os anos mais importantes da nossa vida eram os 5 primeiros, sobre os quais -- azar -- logo tombava uma cortina de sombras, que durava a vida inteira, exceptuados os sobressaltos e as recaídas no Inconsciente.
Estou agora a terminar uma tese de doutoramento, em que defendo que, bem mais importantes do que esses 5 anos da Infância são os 5 anos da Licenciatura. Esse, sim, é o tempo da verdadeira angústia.
É, pois, com a Dor de Sócrates que eu sofro: aquela Pós-Graduação de 4 dias fez-me saber o que pode ser o sentimento de inferioridade de um cavalheiro que quer galgar a todo o custo, e sabe não ser detentor de um canudo.
Há, em José Sócrates, um pouco de Harry Potter. Ele sabe mexer a varinha -- ou o varão -- e as coisas aparecem todas feitas. "Consta-se de que", mal seja apeado involuntariamente do Governo, já se está a preparar para a Beatificação. O "Expresso" de hoje avança com o seu primeiro milagre: o de ter criado, do Nada, um Reitor.
Isso é uma coisa lindíssima, e acho que nem a Sãozinha, nem a Santa da Ladeira, nem a Irmã Lúcia, no tempo das suas melhores "performances", conseguiram tais feitos...
Nomear um Reitor é algo de bem mais profundo do que pôr um paralítico a andar, um cego a ver, ou o Mega Ferreira à frente do Centro Cultural de Belém.
Resta a matriz psicanalítica da coisa, e essa é o centro deste texto: até agora, nunca tinha percebido a raiva desmesurada contra certas classes da Sociedade Portuguesa, justamente, aquelas onde se congregam mais Licenciados, Médicos, Juristas e Professores.
Era, afinal, um problema psicanalítico, não o dos 5 primeiros anos de vida, mas o dos intermináveis 5 anos da sua "Licenciatura", em irremediável forma de Quasímodo.