Nessa noite, um dos dois devia estar alcoolizado, e suponho que tenha sido eu, já que -- mea culpa -- contribuí, a par com uma enorme multidão de ingénuos portugueses, para colocar no Poder o duvidoso cidadão José Sócrates.
A "Democracia Avançada" do vilar-maçadense traduzia-se, afinal, em retirar aos seus compatriotas coisas que outrora, num outrora muito recuado, Salazar tinha concedido, e Salazar não era de dar o que quer que fosse, a quem quer que fosse.
Assim foi que, poucos meses tivessem chegado para que me tivesse de refugiar, com todos os meus pares nesta nova Meseta de Massada -- daqui saúdo os restantes braganza-motherenses, redactores, colaboradores e leitores!... -- para exercer, em pleno, o Artigo 21.º da Constituição da República Portuguesa, o chamado "Direito de Resistência", que reza o seguinte: "Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de repelir pela força qualquer agressão, quando não seja possível recorrer à autoridade pública."
O trabalho deste blogue é o de cumprir, escrupulosamente, o Artigo 21.º da nossa Constituição, e creio que, modéstia à parte, se tem tem saído bastante bem.
O segundo "mea culpa" da minha vida recente não é tão "mea culpa" assim, antes correspondeu a um acto premeditado, e a uma jogada política minuciosamente calculada, que correspondia a ter de escolher, entre dois hipotéticos vencedores, Carmona e Carrilho, aquele que deveria gerir a maior aldeia de Portugal.
Quanto a Carrilho, já creio ter dito tudo, aliás, tudo o que aqui posso dizer, é que ele não é senão uma ponta de um terrível "icebergue" que um dia destes reemergirá. Para quem queira saber mais, aconselho uma releitura de Lombroso e de todos os especialistas de Criminologia do séc. XIX: já lá estava tudo, pelo que, naquele dia de sol, o salve-se-quem-puder se chamou, para mim, Carmona Rodrigues.
Confesso que fiquei satisfeito: o discurso de derrota de Carrilho, com aquelas faíscas de luz negra, aquela bílis autofágica, aquele canibalismo mal contido pelos fatos Dunhill e as camadas de batôn da cróia que o ladeava foram um dos momentos de maior alívio da minha vida, e uma das mais sinceras gargalhadas que soltei na minha existência.
Mais propriamente, fizeram-me lembrar, quando, na Branca de Neve, a Bruxa Má explodia, no fim, numa espessa nuvem de fumo preto, e o Mal terminava.
Não terminou.
Há, porém, uma coisa chamada Tempo, que é a estranha Entropia da Física, e o Tempo levou a que, depois destes últimos episódios de permanente desastre que tem sido a vida política portuguesa, se tivesse assistido, nesta mesma noite, a um primeiro sinal de que qualquer coisa pode, e deverá acontecer: a figura menor, que todos ridicularizamos, o actual líder do P.S.D., deu uma jogada magistral, ao declarar ser tempo de realizar eleições intercalares para a Câmara de Lisboa.
Para os metaleitores do Tempo e infatigáveis jogadores de xadrez, como eu, Borges e a Morte, de Bergman, foi feito um claro Xeque ao Rei. O próximo, estranhamente, será dado por aqueloutro a quem também já atirámos tantas pedras, o Zé Povinho da Madeira...
Quanto ao Cidadão José Sócrates, é bom que a Comunicação Social se apresse a movimentar, para evitar que seja ultrapassada pela terrível corrente de lava, que já corre por toda a Net, a favor da defesa da Dignidade Nacional e do impedimento de vexames continentais sobre nós e os nossos compatriotas: o tempo de termos vergonha de ser Portugueses terminou, a Presidência da União Europeia está à porta, e, como é sabido, não se compadece nem com manter artificialmente vivo Sócrates, nem com quaisquer outras cosméticas internas da Merdaleja.
Muito boa noite.